1. (Espcex (Aman) 2023) Assiste à demolição

– Morou mais de vinte anos nesta casa? Então vai sentir “uma coisa” quando ela for demolida. Começou a demolição. Passando pela rua, ele viu a casa já sem telhado, e operários, na poeira, removendo caibros. Aquele telhado que lhe dera tanto trabalho por causa das goteiras, tapadas aqui, reaparecendo ali. Seu quarto de dormir estava exposto ao céu, no calor da manhã. Ao fundo, no terraço, tinham desaparecido as colunas da pérgula, e a cobertura de ramos de buganvília – dois troncos subindo do pátio lá embaixo e enchendo de florinhas vermelhas o chão de ladrilho, onde gatos da vizinhança amavam fazer sesta e surpreender tico-ticos.

Passou nos dias seguintes e viu o progressivo desfazer-se das paredes, que escancarava a casa de frente e de flancos jogando-a por assim dizer na rua. Os marcos das portas apareciam emoldurando o vazio. O azul e as nuvens circulavam pelos cômodos, em composição surrealista. E o pequeno balcão da fachada, cercado de ar, parecia um mirante espacial, baixado ao nível dos míopes.

A demolição prosseguiu à noite, espontaneamente. Um lanço de parede desabou sozinho, para fora do tapume, quando já cessara na rua o movimento das lotações. Caiu discreto, sem ferir ninguém, apenas avariando – desculpem – a rede telefônica.

A casa encolhera-se, em processo involutivo. Já agora de um só pavimento, sem teto, aspirava mesmo à desintegração. Chegou a vez da pequena sala de estar, da sala de jantar com seu lambri envernizado a preto, que ele passara meses raspando a poder de gilete, para recuperar a cor da madeira. E a vez do escritório, parte pensante e sentinte de seu mecanismo individual, do eu mais íntimo e simultaneamente mais público, eu de gavetas sigilosas, manuseadas por um profissional da escrita. De todo o tempo que vivera na casa, fora ali que passara o maior número de horas, sentado, meio corcunda, desligado de acontecimentos, ouvindo, sem escutar, rumores que chegavam de outro mundo – cantoria de bêbados, motor de avião, chorinho de bebê, galo na madrugada.

E não sentiu dor vendo esfarinharem-se esses compartimentos de sua história pessoal. Nem sequer a melancolia do desvanecimento das coisas físicas. Elas tinham durado, cumprido a tarefa. Chega o instante em que compreendemos a demolição como um resgate de formas cansadas, sentença de liberdade. Talvez sejamos levados a essa compreensão pelo trabalho similar, mais surdo, que se vai desenvolvendo em nós. E não é preciso imaginar a alegria de formas novas, mais claras, a surgirem constantemente de formas caducas, para aceitar de coração sereno o fim das coisas que se ligaram à nossa vida.

Fitou tranquilo o que tinha sido sua casa e era um amontoado de caliça e tijolo, a ser removido. Em breve restaria o lote, à espera de outra casa maior, sem sinal dele e dos seus, mas destinada a concentrar outras vivências. Uma ordem, um estatuto pairava sobre os destroços, e tudo era como devia ser, sem ilusão de permanência.

Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. 12. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979.

Vocabulário

caibro s.m. elemento estrutural de um telhado, geralmente peças de madeira que se dispõem da cumeeira ao frechal, a intervalos regulares e paralelas umas às outras, em que se cruzam e assentam as ripas, frequentemente mais finas e compridas, e sobre as quais se apoiam e se encaixam as telhas

pérgula s. f. espécie de galeria coberta de barrotes espacejados assentados em pilares, geralmente guarnecida de trepadeiras

buganvília s.f. designação comum às plantas do gênero bougainvillea, trepadeira, muito cultivadas como ornamentais

de flanco s. m. pela lateral

marco s. m. parte fixa que guarnece o vão de portas e janelas, e onde as folhas destas se encaixam, prendendo-se por meio de dobradiças

tapume s. m. cerca ou vala guarnecida de sebe que defende uma área; anteparo, geralmente de madeira, com que se veda a entrada numa área, numa construção

lambri s. m. revestimento interno de parede, usado com fim decorativo ou para proteger contra frio, umidade ou barulho; feito de madeira, mármore, estuque, numa só peça ou composto por painéis, que vão até certa altura ou do chão ao teto (mais usado no plural)

caliça s.f. conjunto de resíduos de uma obra de alvenaria demolida ou em desmoronamento, formado por pó ou fragmentos dos materiais diversos do reboco (cal, argamassa ressequida) e de pedras, tijolos desfeitos

lote s. m. porção de terra autônoma que resulta de loteamento ou desmembramento; terreno de pequenas dimensões, urbano ou rural, que se destina a construções ou à pequena agricultura

Fonte: HOUAISS, A. e Villar, M. de S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Elaborado no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro. Objetiva, 2009.

Assinale a alternativa em que todos os vocábulos possuem o mesmo número de fonemas.

a) vizinhança – composição – tranquilo   

b) telhado – quarto – pequeno   

c) chorinho – ninguém – terraço   

d) desintegração – acontecimentos – desvanecimento   

e) envernizado – escritório – mecanismo   

2. (Ufrgs 2022) Esse delírio que por aí vai pelo futebol 1__________ 2seus 3fundamentos na própria 4natureza humana. O espetáculo da luta sempre foi o maior encanto do homem; e o prazer da vitória, pessoal ou do partido, 5foi, 6é e 7será 8a ambrosia dos deuses manipulada na Terra. Admiramos 9hoje os grandes filósofos gregos, Platão, Sócrates, Aristóteles; 10seus 11coevos, 12porém, 13admiravam muito mais os atletas que 14venciam no estádio. Milon de Crotona, 15campeão na arte de torcer pescoços de touros, só para nós tem 16menos importância que 17seu 18mestre Pitágoras. Para os gregos, para a massa popular grega, seria inconcebível 19a ideia de que o filósofo pudesse no futuro ofuscar a 20glória do lutador.

            Na França, o homem 21hoje mais popular é George Carpentier, mestre em socos de primeira classe; e, se derem nas massas um balanço sincero, verão que ele sobrepuja em prestígio aos próprios chefes supremos vencedores da guerra.

            Nos Estados Unidos, há 22sempre 23um campeão de 24boxe tão entranhado na idolatria do povo que está em 25suas 26mãos subverter o 27regime político.

            E os delírios 28coletivos provocados pelo combate de dois campeões 29em campo? 30Impossível assistir-se a espetáculo mais revelador da alma humana que os jogos de futebol.

            31Não é mais esporte, é guerra. Não se batem 32duas equipes, mas dois povos, duas nações. Durante o tempo da luta, de quarenta a cinquenta mil pessoas deliram em transe, estáticas, na ponta dos pés, coração aos pulos e nervos tensos como cordas de viola. 33Conforme corre o jogo, 34__________ pausas de silêncio absoluto na multidão suspensa, ou deflagrações violentíssimas de entusiasmo, que só a palavra delírio 35classifica. E gente pacífica, bondosa, incapaz de sentimentos 36exaltados, sai fora de si, torna-se capaz de cometer os mais 37horrorosos desatinos.

            A luta de vinte e duas feras no campo transforma em feras 38os cinquenta mil espectadores, possibilitando um enfraquecimento mútuo, num conflito horrendo, caso um incidente qualquer funda em corisco, 39__________ eletricidades psíquicas acumuladas em cada indivíduo.

            O jogo de futebol teve a honra de despertar o nosso povo do marasmo de nervos em que vivia.

Adaptado de LOBATO, Monteiro. A onda verde. São Paulo: Globo, 2008. p. 119-120.

Sobre a relação entre letras e fonemas, associe corretamente o bloco inferior ao superior.

1. Palavras que têm mais fonemas do que letras.

2. Palavras que têm mais letras do que fonemas.

3. Palavras que têm o mesmo número de letras e fonemas.

(     ) glória (ref. 20).

(     ) boxe (ref. 24).

(     ) regime (ref. 27).

(     ) Impossível (ref. 30).

(     ) exaltados (ref. 36).

(     ) horrorosos (ref. 37).

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 3 – 3 – 1 – 2 – 1 – 2.   

b) 2 – 3 – 1 – 3 – 1 – 1.   

c) 3 – 1 – 3 – 2 – 3 – 3.   

d) 2 – 1 – 1 – 1 – 2 – 2.   

e) 3 – 1 – 3 – 2 – 3 – 2.   

3. (Eam 2021) Assinale a opção em que todas as palavras destacadas estão corretas quanto ao emprego do "s".

a) Estupides, francês, sacerdotisa, diurese.   

b) Exegese, destresa, cicatris, suspensão.   

c) Gasoso, puser, catequese, canalisação.   

d) Pretensão, repulsa, cheirosa, marquesa.   

e) Burguês, quiser, detensão, anamnese.   

4. (IFMT 2020) Analise as assertivas abaixo e marque aquela que apresenta uma informação que NÃO está em conformidade com a norma culta da língua portuguesa.

a) O número de fonemas de uma palavra pode não ser o mesmo que o número de letras, como ocorre em táxi e telha.   

b) Algumas vezes, o fonema pode ser representado por mais de uma letra, como ocorre em zebra – casa – existe.   

c) Letra e fonema são sempre equivalentes.   

d) As letras são a representação gráfica de um fonema.   

e) Na palavra “humano”, o “h” não representa um fonema.   

5. (IFCE 2019) Apresenta um dífono gramatical a palavra 

a) pilha.    

b) xícara.    

c) espeto.    

d) xampu.    

e) indexado.    

6. (IFAL 2018) Nos estudos que inter-relacionam o gráfico e o fonético, dispomos dos dígrafos. Nesse sentido, assinale a alternativa em que os dígrafos estão dispostos pela mesma razão.

a) folha – ninho – carro – bolha – caminho.   

b) migalha – nascimento – massacre – adivinhação – assombração.   

c) reminiscência – carrapato – piscicultura – florescente – cassação.   

d) carinho – manhã – ferro –passeata – corrupção.   

e) fascinação – velhice – bolha – assunção – descida.    

7. (IFSC 2017) Gabarito da segunda aplicação do Enem 2016 é divulgado; uma questão é anulada

Enem de dezembro ocorreu devido às ocupações de locais de prova por movimentos estudantis. Inep divulgou respostas oficiais nesta quarta (7); nota final sai em janeiro.

            O gabarito oficial da segunda aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi divulgado nesta quarta-feira (7), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Uma das questões da prova de ciências da natureza foi anulada, na prova de sábado, dia 3 de dezembro: é a 52 na prova amarela, 88 na rosa, 60 na azul e 58 na branca.

            A pergunta pedia que o candidato analisasse quatro gráficos. De acordo com o Inep, embora não haja incorreções nos dados, "as escalas apresentadas podem ter dificultado a visualização dos pontos relativos à concentração de gases e assim, a partir de um cálculo mais sofisticado, permitido uma segunda interpretação por alguns participantes". Segundo o órgão, a pergunta não será considerada no cálculo das proficiências. "Como a prova do Enem é baseada na Teoria de Resposta ao Item (TRI), a anulação não tem impacto no resultado final", afirma o comunicado do Inep.

Disponível em: http://g1.globo.com/educacao/enem/2016/noticia/gabarito-da-segunda-aplicacao-do-enem-2016-e-divulgado.ghtml. Acesso em 10 Dez 2016.

Em português, frequentemente, o mesmo fonema (som) pode ser representado de maneiras diferentes na escrita. Por exemplo, o fonema /z/ pode ser representado pelas letras x, z e s, como ocorre nas palavras “exame”, “natureza” e “rosa”, respectivamente.

A possibilidade de se registrar graficamente o mesmo fonema empregando-se diferentes letras ou dígrafos pode gerar dúvidas que, às vezes, resultam em erros de ortografia.

Considerando a ortografia, analise as frases a seguir e assinale a alternativa CORRETA.

a) A limpesa dos tanques consome dezenas de litros de detergente.   

b) Se ela soube-se a data da viajem, poderia antecipar o envio da bagajem.   

c) Após duas semanas de paralização, os petroleiros retomaram o projeto.   

d) A visualização da trajetória do projétil só seria possível à noite.   

e) Não sei por que você não desisti logo e exclue seu primo da equipe.   

8. (Enem 2015) Assum preto


Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas assum preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor

Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do assum preto
Pra ele assim, ai, cantá mio

Assum preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil veiz a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá
GONZAGA, L.; TEIXEIRA, H. Disponível em: www.luizgonzaga.mus.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (fragmento).

As marcas da variedade regional registradas pelos compositores de Assum preto resultam da aplicação de um conjunto de princípios ou regras gerais que alteram a pronúncia, a morfologia, a sintaxe ou o léxico. No texto, é resultado de uma mesma regra a

a) pronúncia das palavras “vorta” e “veve”.   

b) pronúncia das palavras “tarvez” e “sorto”.   

c) flexão verbal encontrada em “furaro” e “cantá”.   

d) redundância nas expressões “cego dos óio” e “mata em frô”.   

e) pronúncia das palavras “ignorança” e “avuá”   

9. (Ufsm 2006) 

Assinale a alternativa que contém a resposta correta em relação à grafia e aos fonemas dos quadrinhos 3 e 4.

a) A palavra aqui tem um ditongo crescente, quatro letras e três fonemas.   

b) No terceiro quadrinho, a letra s representa um só fonema.   

c) Nas palavras acho e questão, há dois dígrafos e dois ditongos decrescentes.   

d) Sempre e pegadinha têm o número de sílabas diferentes, mas, quanto à tonicidade, recebem a mesma classificação.   

e) Na separação silábica das palavras do quarto quadrinho, as letras que representam os dígrafos ficam juntas na mesma sílaba.   

10. (Enem 2ª aplicação 2010) Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual; contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu... Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.

Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).

Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se

a) na fonologia.   

b) no uso do léxico.   

c) no grau de formalidade.   

d) na organização sintática. 

e) na estruturação morfológica.   






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